31.5.13

Considerações estéticas: as capas de James Taylor

1. Prólogo

Numa quieta manhã de quarta-feira pego-me ouvindo o cantor e compositor americano James Taylor, expoente daquele soft rock 4-4-2 dos anos 70 que as almas conservadoras e bundonas não conseguem resistir. Em meio à fruição, sou pego de surpresa por este colete e este muquinho. Revisito sua discografia e eis que não há dúvidas: há algo na imagem do jovem James que intriga.

Aliança e cigarro: uma só mão, dois mundos.

2. Introdução

Ele era amigo dos Beatles, gravou pela Apple, participou de festivais que promoviam a paz, era cabeludo, tocava violão. Era um jovem como muitos naquele florescente final dos 60. Mas um olhar mais atento percebe que a duplicidade na imagem de James se impõe: o algo-hippie garotão ostenta bigode e camisas ordinárias. O petiz de espírito livre dividia espaço com o pai gente boa de senso de humor duvidoso. Ambos no mesmo corpo franzino, por baixo dos longos cabelos cujas entradas não escondiam o que estava por vir. Sem mais, vamos às capas.


3. As capas de James


1968: a cafonice é a transgressão ou onde esta falhou? A folha seca na coxa de James simboliza uma crítica à cannabis sativa ou a "queima" da mesma?



1970: o flerte com a sobriedade.



1971: o bigode engrossou, a entrada avançou, o suspensório lipanjuniorizou. E agora, James?



1972: sinais de distúrbio anti-social, laços estreitos com a natureza e o abraço ambíguo no tradicional e exótico. Calças de veludo destacam-se.



1973: aos 25 anos James já tem pouco de jovem a não ser as longas madeixas. O sweater de tricô inaugura o vestuário conservador autêntico, não-irônico.



1975: esta merece especial atenção. Os cabelos já estão curtos, o bigode retorna imponente, a coluna se curva e uma adorável papete adorna os pés de James. Os trajes brancos e dedo amigavelmente em riste com o mar ao fundo seria uma pajelança com requintes de Amado e Caymmi ou apenas um método avançado de galhofa balzaquiana?


 

1976: capa e contracapa não deixam dúvidas. O tio zé graça chegou, faz piadas auto-referentes e usa sandálias com meias. As ondas emitidas são tão fortes que refletem aqui nos trópicos no mesmo '76.



1977: o álbum anti-punk. James se apresenta pelas suas iniciais (JT, jay tee), penteia o cabelo para o lado e usa uma camisa discreta; tudo como um bom vizinho americano.



1979: você logo vai entender. Essa capa deveria esconder



1981: isto, mas pretendia - em vão - esconder



1985: isto, o processo que aqui se finaliza. "That's why I'm here", ou seja, está aqui para dizer "estou careca, enrugado e esquálido, mas em paz". Às discretas facetas ripongas, adeus. Ele cantará suas músicas, mas o fará como um pai de família.


4. Apêndice: o viés conjugal

Três fotos do casal James Taylor & Carly Simon mostram de maneira bastante didática o percurso que se dá entre o pouco convincente cool ao confortavelmente brega:



5. Considerações finais

Chegamos ao fim dessa pequena viagem à obra, mente e figurino daquele que é um dos baluartes do ser tiozão com coração. Um dos símbolos daqueles que se vestem como banqueiros e votam como socialistas; falam como avôs e sonham como jovens; ostentam uma vasta cabeleira e não abrem mão da camisa polo; tem no mesmo armário um All Star e um chinelo Raider; comem em podrões e bebem água tônica; gostam de The Clash e tem em Rod Stewart a representação do roqueiro inglês ideal (e inclusive aceita, ouve e vangloria sua fase predador sexual); bebem café religiosamente em dias úteis e fumam unzinho escondido dos filhos aos domingos.

Enfim, aquele cuja moral não permite despirocar, mas não por isso se deixa levar pelo caminho tucano. James Taylor é acima de tudo um indivíduo moderado que, mesmo quando arrisca, o faz parcimoniosamente - à sua maneira e a seu tempo.